Enquanto para quase todo mundo fim de ano é sinônimo de festas, confraternizações e muita animação, para quem sofre de enxaqueca esse período pode representar uma verdadeira prova de fogo. Por isso, nesta época, eu sempre faço questão de lembrar aos meus pacientes que tratam dessa patologia e a todos que acompanham minhas dicas pela Internet: estamos lidando com uma doença crônica (ou seja, que não tem cura), mas que pode muito bem ser controlada, se adotarmos as estratégias certas!

Dra Simone Amorim - tratamento da enxaqueca

A lida com a enxaqueca faz parte da minha rotina, não só como médica que trata dessa patologia, mas também como paciente

Quem me conhece sabe que falo não só como médica, mas também como paciente. Já faz muitos anos que faço o meu controle periódico com aplicação de toxina botulínica, ao mesmo tempo em que ponho em prática, no meu dia a dia, tudo o que sabemos sobre o manejo dos “gatilhos” das crises.

Embora alguns fatores desencadeantes variem de pessoa para pessoa, algumas condições são especialmente delicadas para praticamente todos os que padecem com essa condição, tais como: exposição ao sol e ao calor, déficits de sono, consumo de alimentos gordurosos, doces e bebidas alcoólicas, cansaço físico, estresse, etc. Agora, a grande questão é que as Festas de fim de ano reúnem a maioria dessas variáveis, transformando os dias de lazer em um verdadeiro martírio para o enxaquecoso que ainda não aprendeu a se programar para essas mudanças de rotina.

Algumas dicas valiosas

Sol & calor

O sol em excesso é um importante gatilho para as crises de enxaqueca (sem contar que também não faz nada bem para a pele, não é mesmo?), assim como o calor intenso, pois ambas as situações promovem a vasodilatação (pouco tolerada pelas pessoas enxaquecosas). Por isso, evite a exposição solar direta e prolongada. Proteja-se! Sombra e água fresca formam o combo essencial para evitar episódios dolorosos. Ah, sim: roupas confortáveis e bem arejadas também ajudam a afastar os incômodos que levam às crises.

Luz intensa

Sensíveis que somos aos estímulos externos, a luz intensa também é agressiva para nós, enxaquecosos. Nas saídas durante os dias de verão, os óculos escuros e chapéus de abas largas são muito mais do que meros acessórios que ajudam a dar um charme no visual. Esses itens são partes importantes do nosso “kit de sobrevivência”!

Hidratação

Este é outro ponto-chave: MUITA ÁGUA! MAS MUITA MESMO! Vocês sabiam que a sede já é um sinal de desidratação? E que, no caso de uma pessoa que sofre de enxaqueca, a primeira reação do organismo desidratado é entrar em pane, apresentando os sintomas de crise (dor, mal-estar, aura, etc.)? Ou seja, esperar a vontade de beber água pintar para se hidratar é um mau negócio para nós, enxaquecosos! O ideal é tomar pelo menos dois litros de água por dia – e, aqui, cabe lembrar: a água de coco também pode sim ser uma ótima pedida para hidratar, assim como os sucos naturais. Mas nesses casos é muito importante a pessoa observar como o seu organismo reage a determinadas frutas (e se você notou que algum sabor está relacionado às suas crises, evite), e quanto menos açúcar, adoçante e produtos industrializados adicionados às bebidas, melhor.

Bebidas alcoólicas

Já que entramos no campo das bebidas, as alcoólicas merecem um tópico à parte. Apesar de ser tão associado aos momentos de celebração e relax, o álcool provoca desidratação no organismo, sendo que quem sofre de enxaqueca é especialmente sensível a esse efeito. Sendo assim, o grande antídoto para aproveitar os brindes sem medo é compensar através do consumo de muita água (novamente ela!), antes, durante e depois da ingestão da bebida alcoólica e, claro, evitar exageros e misturas de diferentes tipos de bebidas.

Comidas

Já ouvi muitos pacientes se queixarem de que se sentam à mesa tristes para as ceias de Natal, por se sentirem inseguros na hora de aproveitar os bufês das festas, já antevendo a dor de cabeça esperando logo ali, no dia seguinte ao banquete. Como as opções costumam ser fartas e variadas nessas ocasiões, a grande dica é a pessoa fugir mesmo dos pratos que reúnem ingredientes que ela já sabe que estão relacionados com os seus gatilhos de dor (pepino, rabanete, melão, melancia, carne de porco e produtos embutidos são alguns exemplos que costumam constar da “lista negra” de muitos pacientes). Por outro lado, as receitas também são muito mais elaboradas e são muitos os pratos que têm um pouco de tudo, ficando muitas vezes difícil não consumir um ou outro item. Nesse caso, uma estratégia interessante pode ser começar saciando a fome com os itens mais leves e inofensivos e depois consumir com moderação os pratos mais “pesados”.

Medicação

O organismo enxaquecoso é sensível e voluntarioso. Mesmo tomando todos os cuidados, pode ser que a crise queira dar as caras. Saber a hora certa de tomar a medicação de alívio é outra vantagem obtida pelo paciente que está bem assistido no controle do seu quadro. Recomendamos que, nesses casos, o remédio seja tomado assim que surgir a primeira “pontadinha” de dor ou os primeiros sintomas do pródomo (alterações sensoriais que precedem os episódios de dor). Nem antes, nem depois. Isto é: nada de tomar o remédio de alívio para prevenir, se nenhum sintoma se manifestou ainda, mas também nada de deixar a crise se instalar, para só depois entrar com a sua medicação.

Planejamento

Depois de ler cada um desses itens, já deu para perceber que o grande “pulo do gato” da pessoa que sofre de enxaqueca é a capacidade de estar um passo adiante das crises, não é mesmo? É claro que isso exige uma boa dose de planejamento, mas nada impossível de gerir. Estar atento aos itens e medidas preventivas é um hábito a ser incorporado pela pessoa que enfrenta essa patologia. Nesse processo, a auto-observação e o autoconhecimento são muito importantes para que, com naturalidade, o paciente aprenda a lidar de forma eficaz com as situações que podem colocar o organismo em estresse. Aos poucos, esses fatores passam a ser também observados e respeitados por todos que estão à sua volta.

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