Ao longo de todo este mês, dispus-me a responder questões específicas sobre distonia e espasticidade nas minhas redes sociais. Lá no meu Instagram e no meu Facebook temos uma série de cards e vídeos sobre esses temas. Mas eu não posso fechar esse ciclo sem dedicar um texto mais longo a um ponto que muitos perguntam: o das cirurgias para esses casos.

Pacientes e familiares querem saber mais sobre “a tal DBS”, e isso nos leva diretamente ao conceito da Neuromodulação – algo relativamente novo no tratamento dos problemas neurológicos, mas com resultados muito animadores!

Basicamente, a Neuromodulação consiste em procedimentos médicos capazes de produzir alterações no funcionamento cerebral, que resultam em melhorias no desempenho do Sistema Nervoso Central (cérebro/medula) e/ou Periférico (nervos periféricos). Isso pode ser feito de forma NÃO invasiva (como no caso do aparelho Magventure Magpro R20, com o qual trabalhamos na Clínica Vita) ou de forma invasiva, como no caso das cirurgias chamadas DBS.

No primeiro caso, as sessões são conduzidas por um neurologista, fisiatra ou fisioterapeuta. Já no caso da cirurgia, o procedimento é feito por um neurocirurgião especializado nessa área de distúrbios movimento e cirurgias funcionais.

Aqui no site, tenho uma página específica onde falo sobre a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), um procedimento não-invasivo. Para saber mais sobre ele, clique aqui no link.

A EMT é uma forma não-invasiva de Neuromodulação. FONTE da imagem: acervo Clínica Vita

Atendendo aos pedidos, hoje vou falar aqui um pouco mais sobre DBS. O termo vem do inglês: deep brain stimulation, que, numa tradução livre, significa estimulação cerebral profunda. Isso define bem o objetivo da intervenção, na qual o cirurgião implanta um eletrodo nos chamados núcleos de base do cérebro (áreas que controlam os movimentos) e um dispositivo subcutâneo, que será modulado ao longo do tratamento, a fim de estimular ou inibir a atividade cerebral, dependendo do objetivo que se quer alcançar em cada caso.

O DBS é um recurso cirúrgico, indicado em situações bastante específicas. FONTE da imagem: Google/diversas

Depois de se surpreenderem e se animarem com a existência de um procedimento cirúrgico com ótimos índices de resultados no controle de certos distúrbios do movimento, eis então um outro ponto surpreendente para grande parte dos pacientes e familiares: o de que a cirurgia, quando indicada, NÃO significa cura do problema, mas sim um TRATAMENTO, que exigirá continuidade por toda a vida e que, a depender da situação, também poderá continuar exigindo a realização da terapêutica com toxina botulínica e a realização de terapias motoras (como Terapia Ocupacional, Fisioterapia, Fonoaudiologia, entre outras), por exemplo.

Sendo assim, deixo abaixo listados alguns pontos que considero essenciais para a compreensão do que temos hoje em termos de resultados e expectativas possíveis no campo da Neuromodulação:

  • As técnicas de Neuromodulação, tanto as invasivas como as não-invasivas, resultam de importantes avanços tecnológicos obtidos pela Medicina nos últimos anos. Os níveis de resultados alcançados são os melhores possíveis, bem como a comprovada segurança dos procedimentos, após muitos anos de rigorosos estudos científicos;
  • Hoje, a terapêutica com toxina botulínica (substância mais popularmente conhecida como Botox) segue como tratamento de primeira linha para os casos de distonia e espasticidade. Mas, em algumas situações, a Neuromodulação pode ser indicada e, quando há essa indicação, os resultados costumam ser muito positivos;
  • Em geral, as cirurgias (DBS) são indicadas quando não há uma boa resposta do paciente aos tratamentos não-invasivos – o que geralmente ocorre em maior escala no caso de distonias causadas por determinadas doenças genéticas e tremores, especialmente no caso da Doença de Parkinson;
  • Em geral, a cirurgia melhora muito a qualidade de vida do paciente, mas é importante trabalhar as expectativas em relação ao procedimento, tendo em mente que se trata de um TRATAMENTO que exigirá continuidade;
  • Geralmente, o aparelho (DBS) NÃO é ligado logo após o procedimento cirúrgico. Após o implante, o médico costuma aguardar um período médio de até duas semanas de pós-operatório, para daí iniciar a modulação do aparelho;
  • A frequência dos ajustes do DBS é determinada pelo médico, que acompanhará de perto do paciente para observar que terapêuticas auxiliares indicar (toxina botulínica, terapias motoras, etc).

Aqui nesta entrevista, mais ao fim do vídeo, também comento mais sobre DBS e a sua associação com os tratamentos convencionais: